Os Painéis de S. Vicente de Fora (por referência ao Mosteiro, em Lisboa, onde foram encontrados no final do séc. XIX), continuam a ser objecto da controvérsia maior da historiografia da arte em Portugal. Com efeito, muitas teses, opiniões melhor ou pior fundamentadas, têm vindo a lume desde então, sem que se tenha chegado a resultados consensuais, pese embora a adopção "oficial" da tese de José de Figueiredo (que orientou o primeiro restauro da época contemporânea, executado em 1909-10 pelo pintor Luciano Freire), porquanto esta serve os "superiores interesses da nação", nomeadamente ao criar a ideia de uma representação dos três estados "clero, nobreza e povo", presidida pelo santo padroeiro de Lisboa, tornado de Portugal inteiro, numa magistral composição de um pintor português. Mas, porque nada disso é indubitável, iremos aqui levantar um espaço de opinião e de discussão, na esperança que ele possa contribuir para erradicar o mito e favorecer o verdadeiro conhecimento das questões envolventes, mesmo que se torne impossível chegar a conclusões definitivas.
Para já, convidámos o historiador de arte João David Zink (autor de um estudo monográfico sobre a personagem central, em 1983, e de uma síntese publicada em 1994, onde abordava de modo crítico as teses mais significaticas: «Os painéis de S. Vicente de Fora», in História de Portugal /Dirigida pelo Prof. Doutor João Medina. Alfragide : Ediclube, [1994]. Vol. IV - Os Descobrimentos, tomo I - O mar sem fim, p. 277-288) para desencadear as hostilidades. Esperamos que surjam outros contributos. Fica pois aqui o desafio a quantos quiserem participar nesta aventura em demanda da verdade.